Ambulatório Sertrans do HSM oferece acompanhamento especializado em processo transexualizador com equipe multidisciplinar
26 de junho de 2024 - 13:47
26 DE JUNHO DE 2024 – 12:49 #Hospital De Saúde Mental Professor Frota Pinto #LGBTQPIAN+ #Sertrans
Assessoria de Comunicação do HSM
Texto e fotos:Milena Fernandes
Arte gráfica: Iza Machado
Junho é conhecido como mês do orgulho LGBTQIA+. O objetivo é reforçar a discussão sobre as temáticas que envolvem gênero e sexualidade. Para marcar a data, a Saúde do Ceará lança reportagens especiais com o tema “Saúde de Todas as Cores”. O objetivo é apresentar um pouco da contribuição de pessoas da comunidade na área da Saúde, assim como as iniciativas com foco na inclusão e na garantia de direitos dessas populações nas unidades da Rede Sesa.
Nesta segunda reportagem, destacamos o trabalho desenvolvido pelo Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para Pessoas Transgênero (Sertrans), do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Implantado em 2017, o Sertrans oferece atenção à saúde de nível secundário para proporcionar acompanhamento relacionado ao processo transexualizador. Um caminho que vai do uso do nome social à adequação do corpo biológico e à identidade de gênero e social, passando pela hormonioterapia.
O atendimento acontece todas as quintas-feiras e os pacientes são acompanhados por uma equipe multiprofissional formada por assistentes sociais, endocrinologistas, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras. Em 2023, foram realizados 795 atendimentos.
A auxiliar administrativa Davina Morais, 33, é paciente do Sertrans há três anos
A auxiliar administrativa Davina Morais, 33, é paciente do Sertrans há três anos. “É de extrema importância esse acompanhamento porque o processo de transição é muito intenso e com muitas camadas. Aqui no ambulatório Sertrans, tem essa vantagem de sermos atendidos por uma equipe multidisciplinar, um dos pilares para que possamos fazer uma transição saudável, de maneira responsável e correta. O próprio uso do hormônio é feito com acompanhamento médico, o que nos traz muita segurança”, reconhece.
Theo Joseph, de 21 anos, é atendido no Sertrans há cinco anos, quando ainda era adolescente. “No início eu mesmo não me aceitava, era difícil. Comecei a querer mudar de corpo ainda na adolescência e foi complicado para a minha mãe entender o que estava acontecendo comigo. Mas, aqui no Sertrans eu consegui superar o que me impedia de ser quem eu sou. Minha mãe recebeu toda a orientação dos profissionais que me acompanhavam e começou a me compreender, a me aceitar. Hoje, o nosso relacionamento está bem mais leve e afetuoso”, revela.
A psiquiatra Camila Bonfim explica que as pessoas trans, muitas vezes, se sentem desqualificadas
A psiquiatra Camila Bonfim, que atua no Sertrans, explica que as pessoas trans, muitas vezes, se sentem desqualificadas, gerando adoecimentos psicológicos, como depressão e ansiedade, além de outros tipos de comorbidades. “Vivemos dentro de um contexto que marginaliza grupos que socialmente não são compreendidos como dentro das normas ditas ‘padrão’, o que ajuda a conceber a formação pessoal de determinados sujeitos de forma estigmatizada. Com base nisso, imersos em situações adversas, com alta expectativa de experimentar eventos estressores em suas vidas, é possível que surjam transtornos de humor, de ansiedade, alimentares e por uso de substâncias ao longo da vida. Não se pode, contudo, entender esse desfecho como regra geral para toda a população transexual. Cada percurso é único e deve ser abordado como tal”, ressalta.
A psiquiatra destaca que existem estudos que revelam a triste estatística de aparecimento de sintomas depressivos em mulheres transexuais e travestis com prevalência acima de 50%. “O acompanhamento de saúde mental vem na perspectiva de facilitar um processo de autoconhecimento que permita um encontro consigo de modo mais gentil e verdadeiro, favorecendo a compreensão dos processos subjetivos e dos processos sociais que estão relacionados à subjetivação de pessoas transexuais. É possível, ainda, em psicoterapia, ampliar as ferramentas cognitivas ante as adversidades cotidianas, trazendo mais qualidade de vida como um todo para quem passa pelo processo”, observa.
Antes de trabalhar no Sertrans como psicóloga, Andie de Castro Lima, 29, foi paciente do ambulatório. “Estou no Sertrans há pouco mais de dois meses como psicóloga. Porém, no início do meu processo de afirmação de gênero, contei com a oferta do serviço como usuária. Na época, passei pelo acolhimento e consulta com psiquiatra. Assim, a importância do Sertrans para mim vai além do meu lado profissional como psicóloga. Com o serviço deste ambulatório, enquanto cidadã trans, percebo um cuidado em saúde integral, em uma perspectiva humanizada”, declara.
Ela observa que, por muitos anos, a comunidade trans sofreu com estigmas. “Quando se falava em saúde, logo nos relacionavam apenas a Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s). Hoje, podemos pensar em uma saúde que abranja diversos aspectos da nossa vida, incluindo nossa saúde mental no processo de afirmação de gênero. Como psicóloga, tenho aproximado a atenção clínica de categorias da psicologia social para ampliar o debate sobre a atenção à saúde da população trans, utilizando o setting do acompanhamento psicológico para oferecer uma escuta que dê conta da amplitude do contexto vivido por uma pessoa transgênero. Nós somos vínculos, sonhos e frustrações. E todos esses fenômenos são sociais. Tudo isso está presente em todo o processo de afirmação de gênero, que nunca ocorre isolado do meio social em que vivemos”, afirma.
Acesso ao Sertrans
Para ser atendido pelo serviço, é necessário ir a um posto de saúde e informar a necessidade de afirmação de gênero. A equipe da atenção primária deve realizar a primeira assistência e, em seguida, encaminhar a/o paciente ao ambulatório estadual.
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