Saúde, substantivo feminino: o protagonismo de quem está no ‘front’ da pandemia

10 de março de 2021 - 12:32

9 de março de 2021 – 16:33 # # # #

Assessoria de Comunicação da Sesa
Repórter: Suzana Mont’Alverne
Fotos: Milena Fernandes (Ascom/HSM), Arquivo pessoal e Diego Sombra (Ascom/HSJ)
Artes gráficas: Iza Machado e Fabio dos Santos

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Na semana em que se destaca o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) traz depoimentos de mulheres que atuam na linha de frente da pandemia de Covid-19. Todas elas carregam consigo algo em comum: empatia, medo, insegurança e amor à profissão.

O período pandêmico impõe desafios inimagináveis a todos e cobra ainda mais daquelas que estão no front da batalha, tanto pela dor do momento, como pelo desafio de costurar a vida pessoal com a profissional. A Sesa buscou dialogar com mulheres de diferentes áreas, trazendo falas e perspectivas plurais. Cada profissional tem um olhar particular sobre o cenário, mas em todos eles há muito cansaço e esperança.

As profissionais aqui retratadas representam todas aquelas que estão com a rotina atravessada pelo coronavírus, buscando garantir atendimento adequado a pacientes internados pela doença. A Sesa agradece a dedicação de todos os profissionais neste momento tão difícil enfrentado por todos.

“Sinto alegria em contribuir com a saúde dos pacientes, familiares e funcionários”

Patrícia Bezerra trabalha como auxiliar de serviços gerais no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM). Mãe de três filhos, ela começou a trabalhar muito cedo, ainda com dez anos de idade. “Me sinto guerreira, determinada, batalhadora. Sou mulher de caráter, de honestidade e que sabe respeitar todas as pessoas, mas que também exige ser respeitada”, compartilha.

altOrgulhosa da profissão, Patrícia, de 37 anos, se dedica há nove meses à higienização da unidade de saúde. “Amo minha profissão e foi através dela que consegui comprar minha casa, onde vivo feliz com minha família. Sou casada há 20 anos e tenho três filhos maravilhosos”.

O sorriso sempre estampado no rosto é, segundo ela, a sua marca registrada. E ele é genuíno. “A vida precisa ser valorizada. E o meu trabalho é dedicado a isso, valorização daqueles que lá estão. Eu contribuo com a saúde dos pacientes, familiares e funcionários”, diz entusiasmada.

Os dias são difíceis, mas ela garante que trabalhar com alegria muda tudo e ajuda a amenizar a dor dos que estão privados de uma rotina com os seus. “Procuro sempre fazer amizades, estampar um sorriso no rosto. A alegria é capaz de mudar o mundo de muita gente”, ensina.

“O que veio com a pandemia toda é que, se não bastasse o que já usamos de ferramentas para sobreviver ao dia a dia, temos ainda que lidar com o inesperado. Um ano muito difícil em vários aspectos e de pouco autocuidado”

Cinara Carneiro é médica intensivista pediátrica responsável pela Unidade de Terapia Intensiva para Covid-19 do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), vinculado à Sesa, além de paliativista no Hospital Infantil Filantrópico (Sopai). A pandemia, segundo ela, trouxe inúmeras incertezas e uma necessidade de se reinventar adotando novos mecanismos para conseguir lidar com a pressão e o tempo de resposta para solucionar, da melhor forma possível, situações inesperadas do plantão.

alt“Quando veio a pandemia, nós começamos a lidar e trabalhar com uma doença que ninguém no mundo sabia bem como agir. E você passa a ter que entubar crianças que não tinham perfil de intubação. Você está sobrecarregada e com medo, sempre pensando: será que vou ficar doente e adoecer os meus? Será que vou ser rendida amanhã?”, divide.

Se a equipe está adoecendo, o abalo pode ser maior. Há preocupação com a resposta adequada que se dará aos pacientes. “Nossa saúde mental interfere em toda cadeia de trabalho. Nós acabamos por desenvolver novos mecanismos de defesa. O que veio com a pandemia toda é que, se não bastasse o que já usamos de ferramentas para sobreviver ao dia a dia, temos ainda que lidar com o inesperado”, comenta emocionada.

Os dias têm sido cansativos, mas a médica relata que cada cura renova a esperança de dias melhores. “Eu volto muito cansada, tenho que usar das minhas ferramentas pra poder ficar bem e continuar na minha prática diária, que me traz muito prazer, porque quando a gente consegue dar alta a um paciente da UTI ou assistir aquela criança, que mesmo não podendo curar, eu consegui cuidar até o fim, isso também é exercer a minha prática. Ser médico é também cuidar até o fim”.

A paramentação e os cuidados também interferem muito na rotina incerta dos profissionais da saúde. “Desde que entramos na pandemia, a gente fica mais atento às orientações. No próprio plantão, nós temos muita exigência física com a paramentação. Você tem calor, porque tem a refrigeração para quando não usávamos tantos insumos, se sente sufocada com máscara, sente sede, mas segura, porque você não está podendo se desparamentar. Se trocar, tem risco de contaminação e assim vai”, destaca.

Além do psicológico, ela conta que há uma cobrança física. “Ninguém se prepara pra viver uma situação dessa. Sair dessa rotina e chegar em casa ainda com energia pra ter contato com os seus, contato com quem você é. Você chega em casa e quer dormir, mas estamos há um ano na pandemia, não dá pra chegar sempre e dormir. Você tem que se conectar consigo. Um ano muito difícil em vários aspectos e de pouco autocuidado.”

A pandemia não acabou. E o número de internações vem subindo. “A gente realmente está vivendo a segunda onda. Tivemos momentos de calma, sem tantas crianças com o PCR positivo, mas, após o Réveillon, o perfil mudou. Há muitas crianças internadas. Nesta época chuvosa, já temos um aumento de crianças doentes e isso piora com o novo vírus circulando. Não podemos deixar de crer que teremos mais. E aí volta aquela condição de novo e o medo recomeça. Vou adoecer novamente, meu familiar que não adoeceu vai agora? Tá sendo bem angustiante. O que deu um alívio foi o calendário vacinal”, conforta-se.

Cinara emociona-se ao falar que a empatia precisa ser colocada em prática. “Nós, enquanto sociedade, estamos precisando de empatia e não está sendo fácil. As pessoas estão olhando mais pra si e se fechando, e não se vendo como comunidade”. Ela continua, com a voz embargada: “Eu, sinceramente, quando eu vejo notícia de festa me dá um… Eu não consigo descrever. Vou pro plantão, vejo que estou vendo, vejo a minha equipe doente, o governo abrindo UTIs [Unidades de Terapia Intensiva], mas se a equipe de saúde estiver doente, não daremos conta. Não é só um prédio, nem leito, são humanos, é muito triste. Tenho uma responsabilidade imensa. Quando recebo uma criança com PCR positivo, vou coletar a história e a mãe fez festinha uma semana antes. Poxa…”, lamenta.

“Eu sei o que é estar longe de quem se ama”

Wellida Araújo, de 31 anos, é fisioterapeuta no Hospital São José (HSJ). Durante a pandemia, abdicou de estar com a família para se dedicar a salvar vidas. “Minha missão é salvar. Estou longe dos meus filhos, que estão no Interior com os meus pais e eu sei o que estar longe de quem se ama. Luto pelas vidas, só elas importam“.

altA pandemia exige dos profissionais ímpeto. “Esse momento exige que sejamos fortes, porque temos que ficar longe daqueles que amamos para salvar famílias e vidas de pessoas que não conhecemos. Salvá-las é a maior vitória”. As batalhas que Wellida tem de travar diariamente também envolvem outro vírus: o racismo. E este adoece e mata há mais tempo. “A gente já enfrenta muitos desafios só por sermos mulheres. Ainda por cima tem a questão do racismo, por ser uma mulher preta, com muito orgulho. Mas estamos aí para lutar”.